segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A guitarra dos Xutos e Pontapés

Era uma vez eu. Sou uma guitarra elétrica e sou famosa. Já tenho alguns anos porque faço parte dos Xutos e Pontapés desde o princípio da carreira deles. Lembram-se daquela música que no refrão diz Maria? Eu tenho uma aventura com essa música. No princípio diz que de Bragança a Lisboa são nove horas de distância e queria ter um avião e aí eu tinha medo e as minhas cordas encolhiam-se e o Zé Pedro não conseguia tocar comigo, mas eu não tinha culpa de ter medo. Sim eu tinha medo que eles fossem embora num avião e que o Zé Pedro se esquece-se de mim e nunca mais voltasse e aí eu ia ficar muito triste, ia sentir-me só, ia sentir-me abandonada, ia sentir-me enjoada por ele não tocar em mim e ia deixar de ser famosa, porque já não era a guitarra do Zé Pedro dos Xutos e Pontapés. Mas continuando. Eu tinha tanto medo disso que não conseguiam tocar em mim. Todos os membros do grupo experimentaram tocar-me, mas não conseguiam quando chegava a parte do avião. Um dia á noite até sonhei que estava a ser torturada por um avião e até deitei notas de tanto sonhar. Não foram notas de dinheiro claro, foram notas musicais. A música dos Xutos estava a ser arruinada por minha culpa e por culpa do avião. Tão arruinada (por culpa do avião) que o álbum que continha essa música saiu quase um ano atrasado. Mas o dia em que eles conseguiram tocar a música foi tão feliz! Para mim porque finalmente conseguira tocar aquela parte e para os Xutos porque finalmente tinham conseguido gravar o álbum. A música foi um grande sucesso e ainda o é. Ainda hoje essa música corre na internet, nos telemóveis de muitas pessoas, em mp3 mp4 e iPod. Mas feliz foi um dia muito tempo depois, foi quando o Zé Pedro descobriu que eu falava tal como ele. Xiu! Que vai sair história da guitarra.

Então foi assim: eu estava com ele e estávamos a ensaiar uma nova música e de repente ouvi-mos um barulho e o zé Pedro disse-me:

- Ouviste isto?

Eu sei que ele só estava a falar para não se sentir só, mas eu respondi-lhe:

-Sim.

Mas ele não se apercebeu que eu lhe respondi e foi lá ver se estava lá alguém. Passado um pouco ele voltou com ar de espantado porque não tinha visto ninguém ou nada que pudesse fazer tal barulho. Passados uns minutos ouvimos de novo o barulho e ele disse:

-Vamos para casa que já está a ficar tarde.

Arrumou-me no meu agradável e quentinho, pegou em mim e saiu do estúdio. Ao chegar-mos no outro dia de manhã (e fomos os primeiros a chegar) ouvimos de novo o som, mas agora acompanhado por uma voz que dizia:

-Zé Pedro, estás atrasado…

-Mas eu fui o primeiro a chegar!- disse ele.

-Não, a tua banda já partiu…- disse a voz.

E então ele olhou para o relógio e disse:

-Nove e meia. É a mesma hora de sempre.

Olhou para o relógio do estúdio que marcava a mesma hora e lá viu um papel pendurado que dizia: “ Se estás a ler isto é porque nós já partimos. Ontem a produtora ligou e disse que hoje é o aniversário do Castelo de Trás-os-Montes e temos de ir lá atuar, também disse que não consegui ligar para ti e nós também não por isso partimos sem ti e pedimos que vás ter connosco. Abraço Xutos.” Ele ficou traumatizado e eu fiquei pior. Fomos a correr para o carro, pusemos os cintos e ele carregou com toda a força, com tanta força que chegámos a Trás-os-Montes num piscar de olhos, num tocar de uma nota normal. Conseguimos resolver o problema e ainda chegámos a tempo do concerto. Quando estávamos nos bastidores eu disse:

-Boa, ainda chegámos a tempo.

-Quem está aí?- perguntou o Zé Pedro.

-Sou eu. A tua guitarra.

-Tu…tu…t…tu falas?

-Sim.

-He! He! Eu tenho uma guitarra que fala!

-Pois tens. Agora vamos lá dar espetáculo.

-OK.

Tocámos muitas músicas. O concerto foi um sucesso. Obrigada por ouvirem a minha história. Abraço. Guitarra do Zé Pedro dos Xutos e Pontapés.

Sofia, 6ºC

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